domingo, 22 de maio de 2011

Você vai me abandonar
e eu nada posso fazer para impedir.
Você é meu único laço, cordão umbilical,
ponte entre o aqui de dentro e o lá de fora.
Te vejo perdendo-se todos os dias
entre essas coisas vivas onde não estou.
Tenho medo de, dia após dia,
cada vez mais não estar no que você vê.
E tanto tempo terá passado, depois,
que tudo se tornará cotidiano
e a minha ausência
não terá nenhuma importância.
Serei apenas memória, alívio,
enquanto agora sou uma planta carnívora exigindo
a cada dia uma gota de sangue para manter-se viva.
Você rasga devagar o seu pulso com as unhas
para que eu possa beber.
Mas um dia será demasiado esforço, excessiva dor,
e você esquecerá como se esquece
um compromisso sem muita importância.
Uma fruta mordida apodrecendo
em silêncio no quarto...
 

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